Sugestão de Leitura
A vida e a obra de um grande clássico
Cesário Verde foi o introdutor da poesia moderna em Portugal. Ignorado à época, passaram-se décadas antes que o seu valor fosse reconhecido. A descoberta ficou a dever-se a Fernando Pessoa que, um dia, sobre ele escreveu: «O sentimento é forte e sincero, mas reprimido: e é nisto que Cesário é curioso. É um português que reprime o sentimento».
Cesário é hoje um clássico da Literatura Portuguesa, mas pouco se sabe da sua vida. Maria Filomena Mónica, que já escrevera as biografias de Fontes Pereira de Melo, D. Pedro V e Eça de Queirós, tenta abordar aqui a obra e a vida de Cesário não só à luz do período em que viveu, mas relembrando o que os poetas, seus contemporâneos, andavam a escrever enquanto estes versos eram publicados: «Nas nossas ruas, ao anoitecer, / Há tal soturnidade, há tal melancolia…».
É no contexto da poesia declamatória do seu tempo que a genialidade de Cesário pode ser compreendida.
É no contexto da poesia declamatória do seu tempo que a genialidade de Cesário pode ser compreendida.
Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!